segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A escolha para o Draft

Após o SuperBowl, os fãs de futebol americano voltam seus olhos para o Draft. O Draft é quando os times profissionais selecionam promessas, principalmente de faculdades, para seus times. Ontem uma das grandes promessas e candidato a ser escolhido nas primeiras rodadas do Draft, Michael Sam, revelou ser gay. Ele pode ser o primeiro jogador a tornar público que é gay e jogar profissionalmente. Muitos ex-jogadores já assumiram que são gays nos esportes coletivos americanos, mas eles só o fizeram depois que pararam de jogar.

Mas ainda estamos no pode.
Em entrevista ao New York Times e à ESPN Michael Sam afirmou que “só quero contar a minha própia verdade”, “tenho orgulho de ser gay”. De acordo com o Times, Michael contou ao seu time da faculdade no ano passado. E seus companheiros de jogo não apenas aceitaram, como também elegeram Michael um dos melhores jogadores do time. O jovem de 24 anos detém alguns números impressionantes além de jogar em posições variadas, o que faz ser um jogador cobiçado. Ou seja temos um jogador talentoso que quer virar profissional, e daí que ele é gay?

Após a declaração, uma chuva de tweets com frases de apoio e admiração vieram de jogadores e ex-jogadores. A liga de futebol americano, NFL, declarou o seu apoio e que “aguarda para dar as boas vindas e suporte em 2014”. Em mesas redondas nas redes de TV americanas fala-se que há muitos gays nos times, mas que o vestiário não deixa essa informação sair a público.

As discussões em programas de TV norte-americanos não focam muito na questão de um time contratar um jogador gay, e sim em como um time irá receber o novo companheiro. A “cultura do vestiário” é muito citada. Ex-jogadores opinam que há 10 anos ninguém sobreviveria num time sendo homossexual, era um tabu, um problema. E citam a dificuldade que isso pode trazer mesmo hoje, com uma sociedade que avançou nessa questão.

A homossexualidade é algo muito difícil ainda no mundo. Fazendo o paralelo com o Brasil, vemos de maneira crescente a violência contra homossexuais. Algo comum em conversas de heterossexuais é usar a palavra gay, e suas derivações, de forma pejorativa. Como algo ruim. Sim, infelizmente essa é uma verdade triste quando queremos ver uma sociedade que trate todos de maneira igual e justa. Se você diz que não tem preconceito, repare nos seus diálogos e veja se você não utiliza a palavra gay de forma pejorativa.

A maior rede de televisão brasileira deu um passo inédito em sua história recentemente ao exibir um beijo gay. Por outro lado, a Folha de S.Paulo publicou uma matéria assustadora, em que divulga como um gay deve agir. Tiveram a oportunidade de criticar a falta de segurança pública, mas preferiram dar dicas como quem dá para se proteger do Sol neste verão. Ao ler essa matéria, em um dos maiores veículos de comunicação do País, não é de se estranhar que no nosso futebol exista um preconceito também, basta relembrar o caso do jogador Emerson Sheik quando postou uma foto beijando um homem.

O site da ESPN americana deixou no ar uma enquete, como faz diariamente, perguntando se a liga de futebol americano está pronta para um jogador gay. Os resultados, até a hora do almoço, apontavam que 63% achavam que sim. Outros 37% dizem o contrário. O estado do Mississipi é o mais dividido: 51% sim e 49% não. Um estado que historicamente sofreu com questões de preconceito entre brancos e afro-descendentes pode ter uma leitura de que é um estado preconceituoso, ou que sabe melhor que outros como é difícil vencer o preconceito.

O esporte é uma das formas mais incríveis que já conseguiram criar para demonstrar o que um ser humano é capaz. Mas não apenas capaz de romper barreiras em milisegundos, mas barreiras da sociedade. Como não lembrar de Hitler vendo o pódio erguer o punho?

Acredito que o corajoso Michael Sam, coragem porque ninguém o fez até hoje, será escolhido por um time, mas vamos ter que esperar para saber se o esporte norte-americano conseguirá romper essa barreira e, quem sabe, seja um marco para outras ligas.

Um comentário:

  1. Só tem que tomar um pouco de cuidado com a pergunta que foi feita na pesquisa. O cara pode votar que a liga americana não está preparada para receber um jogador gay e não concordar com isso! Acho que, até para gerar mais polêmica, poderia ser: "Você aceitaria um jogador gay no seu time?" aí eu quero ver !

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