quinta-feira, 20 de março de 2014

Música: pouca gente realmente gosta.

Há alguns meses, conversava com alguns amigos sobre o show do Metallica, e um deles foi crucificado (com razão) ao dizer que Metallica era chato. Para a minha surpresa, após o bombardeio, ele admitiu que não gosta e não entende de música. Foi a primeira pessoa que eu conheço a admitir “não gostar de música”.  Comecei a refletir sobre isso, e, convenhamos, isso não é assim tão raro. Esse meu amigo apenas admitiu o que a grande maioria, talvez 90 % das pessoas, consideram chato, ou até mesmo, vergonhoso de admitir.

Para ilustrar o quero dizer, faço um paralelo com pessoas que gostam de vinhos. Gostar de “beber vinho” é diferente de estudar, conhecer e apreciar vinhos, e tudo o que envolve a sua cultura. Você pode até conhecer uma ou outra marca de vinho, pode até preferir um “Cabernet Sauvignon” a um “Merlot”, mas você definitivamente não sabe diferenciar, e nem se importa, com a safra, as características do local onde o vinho foi fabricado, a história da marca, etc.

Com a música acontece exatamente a mesma coisa. Quem realmente gosta e aprecia música, tem alguns prazeres diferentes de quem geralmente só “escuta por escutar”. O apreciador de música sabe diferenciar estilos, conhece a história de seus artistas favoritos, sabe onde, como, quando e porque aquilo foi feito. Gosta de ouvir a música alta, gosta de itens e histórias raras sobre a banda, e principalmente, tem sensações diferentes, como se aquilo que está a ouvir corresse em suas veias, como estivesse no lugar do sangue.

Para um apreciador de vinhos, é quase um orgasmo conhecer a fábrica e beber um vinho raro sobre o qual ele tanto leu e sempre quis experimentar, sentir o cheiro, pegar a garrafa em mãos, ler o rótulo, apreciar a experiência. Para um bom amante da música, pegar em mãos um disco de vinil raro, ler a história do encarte, entender a arte da capa, e escutar aquilo em seu puro estado, é uma sensação diferenciada. O ciclo da experiência completa com a música só termina ao ver o artista ao vivo, e chega ao ápice quando aquela música que você não esperava que ele tocaria, é executada na sua presença, no momento em que você se esquece das milhares de pessoas estão ao seu redor, fecha os olhos, canta, pula e se emociona.

Existem também aquelas pessoas que são “fãs”, mas não necessariamente de música. Conheci uma garota que possuía tudo que o dinheiro poderia comprar da banda mexicana RBD. Ela chorou ao ver a banda ao vivo pela primeira vez. Hoje em dia ela não apenas se envergonha do seu passado como também se tornou fã tiete de uma banda de pagode. Ela não é uma apreciadora de música, ela é uma apreciadora de... não sei, do fanatismo histérico e tudo que envolve essa doença. Essas pessoas são facilmente identificáveis, vocês podem encontra-las hoje acampadas num estado deplorável, aguardando o show do “One Direction”, no estádio do Morumbi.

Fica bem claro então que, pouca gente realmente gosta de música. A grande maioria das pessoas tem a música como “segundo plano” de sua experiência. Isso explica o sucesso dos “lepos lepos”, “ai se eu te pego”, e outros fenômenos e modismos quase que inexplicáveis. Para quem não é apreciador de música, é mais fácil entender e aceitar essas músicas chicletes, em ambientes onde a música não é o objetivo principal. O engraçado é que essas pessoas curtem muito esse tipo de música enquanto ela está na moda, e depois de um tempo ela sente vergonha de dizer que um dia gostou disso. Vide: Hanson, Backstreet Boys, Parangolé, DJ Casino, Fiuk, Armandinho, Felipe Dylon, Netinho (os dois), Mallu Magalhães, Maria Gadú, Tribalistas.

Por isso, quando você pergunta a alguém se ela gosta de música, e ela responde que “gosta um pouco de tudo”, ela definitivamente não gosta de música. Nada te impede de gostar de mais de um estilo, mas tenha certeza de que, quem responde sem pensar que gosta de algum estilo como: Jazz, Rock Clássico, Hard Rock, Música Clássica, Blues, Heavy Metal, Soul, Country, House, Trance, Drum´n Bass, Rockabilly - definitivamente tem mais chances de ser uma pessoa que realmente gosta de música do que alguém que “adora tomar o vinho em alguma ocasião especial”, mas no fundo não sabe 1/10 do sentimento de quem realmente sabe apreciar um vinho.

E O MUNDO, O QUE ACHA DISSO !?



PS 1: (Não considerei MPB, porque apesar de algumas pessoas realmente gostarem disso, hoje em dia é muito fácil se dizer “fã de Chico e da Tropicália” com uma roupa de Tio Barnabé e uma barba suja para se dizer esquerdista cult. )

PS 2: (Muito cuidado com as bandas coringa. Bandas coringa são aquelas geralmente utilizadas pelas pessoas sugadoras da moda para se mostrarem ecléticas e conhecedoras de outros estilos. As duas bandas coringas mais icônicas são “U2” e “Rolling Stones”. Fazem um rockzinho pau mole, sem muita distorção, um grande trabalho de imagem de seus protagonistas, que deixam a música em segundo plano. O resultado é um show repleto de globais, BBBs, “amigonas da torcida”, atendimentos de agência de publicidade, Amaury Jr., etc.)

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