Neste dia 31, último dia de 2009, me sinto com vontade de compartilhar um sentimento. Um sentimento que tenho há tempos, um pensamento que permeia a minha mente, mas que surgiu mais forte nesse período do ano.
É (ou foi) final de ano e uma montanha-russa de emoções sempre se desperta em todos nós. Tem aquele momento que precede o natal em que os shoppings ficam caóticos, as reportagens são quase todas sobre a comparação das vendas deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, os programas matinais ensinam novas (ou nem tão novas) receitas de chester, peru e sei lá mais o que e não tem como evitar de ouvir alguém reclamando que o verdadeiro espírito do natal morreu.
Neste meio tempo acontecem muitas festas, tem muita comida, tem muita gente se preocupando em não comer muito pra não engordar pro verão, tem muita revista tentando ganhar dinheiro ensinando a perder esses quilinhos extras antes que você desça pra praia, tem muita roupa sendo vendida pro ano novo, tem muita gente fazendo tratamento pro cabelo pra não ficar ressecado na praia, tem gente já esperando o BBB .. ahn... 10? Qual que tá agora mesmo? Enfim, tem muita coisa acontecendo.
Tem coisas nem tão boas também... tem comida sendo desperdiçada, tem gente sem família pra comemorar as festas, tem ONG tentando ajudar mas conseguindo fazer só uma pequena parcela do que precisa ser feito, tem muita energia sendo gasta com toda essa festarada, tem o planeta aquecendo com o povo usando um monte de água porque é verão e é calor.. tem tudo isso também.
Às vezes paro e olho. Vejo tudo isso acontecendo, tanta coisa, tanta coisa que a gente inventou.. tanta coisa que foi nos distanciando de básico da vida, tanta coisa que só existe por causa dessa "inteligência" do ser humano: religião, festa, cabeleireiro, roupa, cosméticos, status, pobreza, fome, desigualdade, tecnologia, efeito estufa, aquecimento global, guerra, armas nucleares, ...
Parece tudo uma viagem nossa. A gente consegue viver um dia inteiro pensando que perdeu a hora no cabeleireiro e que ainda não comprou o presente de amigo secreto da empresa e que o fulaninho não me ligou e que o tal cliente deu piti e que eu preciso voltar pro inglês, lalalalala e esquecer completamente de olhar pro céu. Esquecer completamente que não tem a mínima importância que você perdeu seu horário no cabeleireiro e não vai fazer as unhas essa semana. Esquecer que a vida não é esse mundinho em que a gente vive.
E é isso que me faz pensar se não seria melhor para todo mundo se nós não fôssemos inteligentes. Se vivêssemos a vida como só mais uma espécie de animal.. comendo quando desse fome, dormindo quando desse vontade, sem excessos, nem faltas. Sem grandes insights, filosofias, ideais, mas sem grandes frustrações, tristezas e decepções. Para a Terra com certeza seria melhor, para a espécie também, muito provavelmente.
A parte ruim é que não teríamos consciência do milagre que é a vida.. da loucura que é este planeta. Mas me parece que isso já é um pouco assim hoje em dia. Não?