Depois da televisão, parece que é a vez do Google encarnar o bode expiatório e assumir responsabilidade pela limitação mental da sociedade. A nova discussão da intelectualidade dos EUA é se o Google e a facilidade que ele nos oferece nos emburrece.
Nicholas Carr, da revista Atlantic Monthly, uma das principais revistas americanas, propôs a discussão para o mundo intelectual. Segundo ele, o padrão de raciocínio que esta ferramenta nos permite criar é de não-linearidade, ao contrário do que estávamos acostumados. Ao fazer uma busca no Google seu cérebro passa a percorrer links, páginas e sites muito rapidamente, sem que seja realizado um raciocínio linear, de começo, meio e fim, como acontece quando lemos um livro, por exemplo.
O que Carr defende é que esse raciocínio "horizontal" (vamos chamá-lo assim pois não se aprofunda, permanece superficial) acostuma nossos cérebros de uma maneira prejudicial e faz com que raciocínios complexos sejam menos facilmente entendidos.
Ainda que Carr estivesse certo, o Google está longe de ser o culpado por isso. A internet já funcionava dessa maneira antes mesmo do Google existir, portanto, podemos eximi-lo de qualquer responsabilidade.
No entanto, outro ponto de vista tem sido comentado. Daniel Hillis, ex-vice-diretor de pesquisas da Disney e uma das principais mentes do Media Lab do MIT, tem uma visão diferente de Carr, mais parecida com a minha. Segundo ele, a maneira como raciocinamos mudou sim, mas isso não significa que tenha ocorrido uma piora. É simplesmente diferente. E, para ele, nossa capacidade de acompanhar pensamentos complexos não foi alterada.
No minha opinião, o que acontece é o mesmo que comentei num antigo post ("Pago, Ganho"). Nos acostumamos a adotar outra opinião, outro hábito, outro estilo de vida, simplesmente porque ele nós é oferecido e porque outras pessoas o praticam. Por pura preguiça, abrimos mão do senso de crítica, de exercitar o cérebro tanto quanto exercitamos nossos corpinhos pra fugir de gordura localizada e ficar definidinho.
Até onde eu sei, quando se ganha uma habilidade nova, não se perde uma velha, certo? Portanto, pelo menos para as gerações do presente, que ainda convivem com mídias que possibilitam um raciocínio não-linear e mídias que exigem um raciocínio linear, nós podemos ser competentes nas duas formas de pensar. Precisamos de crítica para saber flexibilizar, saber em que momento usar qual habilidade.
Horizontalizar pode ser muito bom. Nos permite vasculhar por muita informação em um tempo menor, até chegar naquela que procurávamos. No entanto, é necessário saber verticalizar algumas vezes. Parar e se aprofundar num assunto. Aprofundar seriamente, não ler um post um pouquinho mais comprido, mas lembrar de ler um livro, algo que te exercite a concentração, pois sabemos que os novos hábitos cotidianos nos obrigam a fatiar nossa atenção em multiplas funções ao mesmo tempo e, como resultado, não nos concentramos 100% em nenhuma.
A questão é que não é a mudança dos tempos que nos faz bem ou nos faz mal, é como lidamos com essa evolução, seja ela qual for. E insisto que o que nos falta é a crítica, é parar e pensar e tirar uma conclusão própria. É usar a evolução com inteligência, é nos esforçar para chegar pelo menos nos 10% de atividade cerebral que nossa limitação nos permite alcançar.
Por isso, eu diria que a resposta é "Não".
1 Comentário:
Parabens pelo texto.
Muito bom.
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