Há
alguns meses, conversava com alguns amigos sobre o show do Metallica, e um deles
foi crucificado (com razão) ao dizer que Metallica era chato. Para a minha
surpresa, após o bombardeio, ele admitiu que não gosta e não entende de música.
Foi a primeira pessoa que eu conheço a admitir “não gostar de
música”. Comecei a refletir sobre isso,
e, convenhamos, isso não é assim tão raro. Esse meu amigo apenas admitiu o que
a grande maioria, talvez 90 % das pessoas, consideram chato, ou até mesmo,
vergonhoso de admitir.
Para ilustrar o quero dizer, faço
um paralelo com pessoas que gostam de vinhos. Gostar de “beber vinho” é
diferente de estudar, conhecer e apreciar vinhos, e tudo o que envolve a sua
cultura. Você pode até conhecer uma ou outra marca de vinho, pode até preferir
um “Cabernet Sauvignon” a um “Merlot”, mas você definitivamente não sabe
diferenciar, e nem se importa, com a safra, as características do local onde o
vinho foi fabricado, a história da marca, etc.
Com a
música acontece exatamente a mesma coisa. Quem realmente gosta e aprecia
música, tem alguns prazeres diferentes de quem geralmente só “escuta por
escutar”. O apreciador de música sabe diferenciar estilos, conhece a história
de seus artistas favoritos, sabe onde, como, quando e porque aquilo foi feito.
Gosta de ouvir a música alta, gosta de itens e histórias raras sobre a banda, e
principalmente, tem sensações diferentes, como se aquilo que está a ouvir
corresse em suas veias, como estivesse no lugar do sangue.
Para um apreciador de vinhos, é
quase um orgasmo conhecer a fábrica e beber um vinho raro sobre o qual ele
tanto leu e sempre quis experimentar, sentir o cheiro, pegar a garrafa em mãos,
ler o rótulo, apreciar a experiência. Para um bom amante da música, pegar em
mãos um disco de vinil raro, ler a história do encarte, entender a arte da capa,
e escutar aquilo em seu puro estado, é uma sensação diferenciada. O ciclo da
experiência completa com a música só termina ao ver o artista ao vivo, e chega ao
ápice quando aquela música que você não esperava que ele tocaria, é executada
na sua presença, no momento em que você se esquece das milhares de pessoas
estão ao seu redor, fecha os olhos, canta, pula e se emociona.
Existem também aquelas pessoas
que são “fãs”, mas não necessariamente de música. Conheci uma garota que
possuía tudo que o dinheiro poderia comprar da banda mexicana RBD. Ela chorou
ao ver a banda ao vivo pela primeira vez. Hoje em dia ela não apenas se envergonha
do seu passado como também se tornou fã tiete de uma banda de pagode. Ela não é
uma apreciadora de música, ela é uma apreciadora de... não sei, do fanatismo
histérico e tudo que envolve essa doença. Essas pessoas são facilmente identificáveis,
vocês podem encontra-las hoje acampadas num estado deplorável, aguardando o
show do “One Direction”, no estádio do Morumbi.
Fica bem claro então que, pouca
gente realmente gosta de música. A grande maioria das pessoas tem a música como
“segundo plano” de sua experiência. Isso explica o sucesso dos “lepos lepos”, “ai
se eu te pego”, e outros fenômenos e modismos quase que inexplicáveis. Para quem não é apreciador de música, é
mais fácil entender e aceitar essas músicas chicletes, em ambientes onde a
música não é o objetivo principal. O engraçado é que essas pessoas curtem
muito esse tipo de música enquanto ela está na moda, e depois de um tempo ela
sente vergonha de dizer que um dia gostou disso. Vide: Hanson, Backstreet Boys,
Parangolé, DJ Casino, Fiuk, Armandinho, Felipe Dylon, Netinho (os dois), Mallu Magalhães, Maria Gadú, Tribalistas.
Por isso, quando você pergunta a alguém
se ela gosta de música, e ela responde que “gosta um pouco de tudo”, ela definitivamente
não gosta de música. Nada te impede de gostar de mais de um estilo, mas tenha
certeza de que, quem responde sem pensar que gosta de algum estilo como: Jazz,
Rock Clássico, Hard Rock, Música Clássica, Blues, Heavy Metal, Soul, Country,
House, Trance, Drum´n Bass, Rockabilly - definitivamente tem mais chances de ser uma pessoa
que realmente gosta de música do que alguém que “adora tomar o vinho em alguma
ocasião especial”, mas no fundo não sabe 1/10 do sentimento de quem realmente
sabe apreciar um vinho.
PS 1: (Não considerei MPB, porque apesar de algumas pessoas
realmente gostarem disso, hoje em dia é muito fácil se dizer “fã de Chico e da
Tropicália” com uma roupa de Tio Barnabé e uma barba suja para se dizer
esquerdista cult. )
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