Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar bem claro que eu sou um são paulino devoto, vou ao templo tricolor em mais de 90% dos jogos, compro produtos oficiais e licenciados, acompanho o time, sei a escalação de cor e isso me dá gabarito e moral para poder falar e dar a minha opinião, não sou um modinha, um cara que não entende de futebol ou ainda que não saiba da história de seu clube. Eu sei. E muito bem.
Gosto muito do Rogério Ceni, acho ele um cara fora de série, sou fã. O cara simplesmente venceu tudo dentro do São Paulo F.C. e tem sua história marcada na história do clube das 3 cores. Foi o grande responsável por um dos dias mais felizes da minha vida, quando o São Paulo abraçou o mundo pela 3ª. vez, isso já no distante ano de 2005.
Porém acho que no atual momento é melhor pensar no reposicionamento dele, como sair de cena e deixar as luvas de lado. Não pela capacidade dele, porque mesmo com 37 anos, ainda é um ótimo profissional e acredito que tenha condições físicas para atuar até os 41, 42 anos sem maiores problemas. Sempre foi disciplinado e lutador.
O que me preocupa é que Rogério Ceni se tornou uma figura muito acima do bem e do mal, com muitos méritos, se diga de passagem. Porém isso é ruim quando se trata de um período no clube onde o processo de renovação se faz necessário.
Pela sua capacidade ímpar de retórica, ele tem muita influência e liderança sobre todo o grupo, o que dificulta muito o início e o desenvolvimento de novas lideranças. É bastante claro que lá dentro quem tem a palavra final é ele e que qualquer outro que queira tomar este papel não é aceito.
Acho que foi assim quando Ricardinho veio para o SPFC e que isso acontece até hoje. Rogério simplesmente não larga o osso e quando cede em algum momento, mostra claramente sua insatisfação. Ficou muito claro o mal estar que ele sentiu quando deixou de ser o cobrador oficial do time, perdendo a vaga para Marcelinho Paraíba. E temo exatamente que esta obsessão por ser o líder em todos os momentos possa atrapalhar o time em momentos de renovação. Afinal, ele não é eterno e o tempo passa para todos.
Há uma falta clara de oportunidades para novos goleiros, novas lideranças e acredito que ninguém quer ser reserva para sempre. Resumindo, o andamento do Tricolor não precisa ser um livro conectado à edição de Rogério Ceni, mesmo ele sendo um capítulo importante de nossa história.
Além disso, também sempre fui um cara desconfiado, observador e sei muito bem verificar onde há falsidade ou certo sentimento de plasticidade nas pessoas. E às vezes acho alguns comentários do Rogério dissimulados, meio forçados e treinados. Não há dúvidas que ele ama o São Paulo e que isso é inquestionável. Mas será que se não houvesse a volta por cima dele a partir de 2004, este amor seria assim tão grande e verdadeiro? Levanto este questionamento porque no começo da década de 2000, quase houve uma transferência dele para o Arsenal da Inglaterra. Chegou até a ficar afastado das redes por um curto período. E isso foi muito antes dos trunfos maiores e das glórias que o transformaram no ídolo que é hoje.
Por isso convido a todos os irmãos tricolores a refletirem sobre o mito. Refletir sobre o fato de este ídolo ter se tornado intocável e quanto isso pode nos prejudicar para vôos futuros e para nossa renovação. Insisto na formação de lideranças dentro de campo, além da sempre presente do nosso número 1.
Jogar a pulga é sempre difícil, perigoso e desconfortável. Mas nos faz refletir sobre aquilo que queremos para nós. E o que eu quero é o sucesso do clube que tanto amo.
Abs,
Petrescu