Para demonstrar como o Brasil ficou “mais chato” e "extremista" de uns anos
para cá, vamos falar sobre como seria recebida em 2014 uma banda totalmente
politicamente incorreta, que no meio da década de 90 percebeu que suas piadas e
gravações de erros faziam mais sucesso do que o rock de altíssima qualidade que
se propunham a tocar com o “Utopia”. Assessorados por Rick Bonadio, a banda se
tornou o Mamonas Assassinas, que teve final trágico, mas jamais será esquecida
por quem viveu aquela febre entre jovens, mulheres, adultos, crianças, negros,
brancos, gays, heteros, avós, etc.
Com vocês, uma resenha (fictícia) do álbum dos Mamonas feita
pelo Deputado Jean Willys, do PSOL, para a revista Rolling Stone (que adora esses tipos) caso os Mamonas Assassinas tivessem
aparecido no Brasil apenas em 2014:
1 – 1406
Já foi difícil ouvir esse começo pesado e tenebroso,
beirando ao macabro com essas guitarras pesadas, mas depois, só piorou. O grupo
é formado por meninos bem nascidos em seus apartamentos de classe média de
Guarulhos, região onde a grande maioria da população não vive a “realidade”
desses garotos. A letra debochada, e de extremo mal gosto, é um ode ao capitalismo
segregacionalista em que vivemos. Além da propaganda subliminar gratuita de
vários produtos “gringos”, o grupo pela primeira vez no álbum demonstra o seu
lado machista afirmando que “a pior de
todas é a mulher”, que supostamente se aproveita do homem para conseguir
comprar seus objetos de desejo. Tenho ojeriza a bandas brasileiras que utilizam
palavras em inglês. Um assassinato à nossa cultura.
2 – Vira-Vira
Homofobia, ódio, racismo e violência contra as mulheres. Tudo
isso parece fazer parte do cotidiano da burguesia de Guarulhos, como notamos
nessa “música”. Em primeiro lugar, porque na suruba só há referências sobre
sexo entre heterossexuais? Claramente a banda ignora a força e a existência do movimento LGBT. “Manuel”,
uma sátira depravada do honrado e respeitado povo português, afirma em uma das
estrofes que “dá graças a Deus” porque a Maria foi em seu lugar. Mais uma vez a
religião toma a frente da discussão sexual, e coloca a mulher abaixo do homem,
como um pedaço de carne que pode ter pedaços arrancados a bel-prazer. Não
bastasse isso, a banda incrimina um afro-descendente por ter arrancado o seio
de Maria. Logo Maria, que dá nome à nossa lei Maria da Penha.
3 – Pelados em Santos
Na letra dessa canção podemos notar a péssima utilização da
língua portuguesa pelos paulistas, justamente eles que zombam tanto do sotaque
de outras regiões do Brasil, além, é claro, da utilização constante de palavras
em inglês. Além disso, novamente encontramos: depreciação da figura da mulher brasileira,
com a insinuação de que um homem humilde jamais terá chances com uma mulher que
se recusaria a andar de Brasília e que não viajaria para a República do
Paraguai. Os gritos exagerados de desespero marcam o ódio que o grupo tem ao
direito da mulher de se vestir da maneira como bem entender sem que sofra o
assédio masculino machista.
4 – Chopis Centis
Uma música nojenta. Toda a letra pode ser simbolizada pelos
barulhos escatológicos de cuspe no início da música, que representam toda a
ideologia elitista e capitalista da banda, que, além de novamente fazer
propagandas subliminares a impérios do capitalismo como o McDonalds, debocha do
manifesto cultural da periferia, intitulado de “Rolezinho”. Falta maturidade e
cuidado da banda com a desinformação da população explorada pela máquina
capitalista do sistema brasileiro, uma vez que eles incitam o povo a se
endividar por meio de crediários com juros exorbitantes das Casas Bahia.
5 – Jumento Celestino
O preconceito contra o povo nordestino não é de hoje. A
música do grupo burguês de Guarulhos tira sarro de uma história de dor, esforço
e superação de milhares de nordestinos que abandonaram sua família para ganhar
a vida em São Paulo. Hoje eles são cidadão alijados de direitos e tratados como
pessoas de segunda categoria. Na letra de “Jumento Celestino” os nordestinos
são acusados de “dar peidos fedorentos”, consumistas por instalarem rádios
americanos em animais, cabeçudos, desrespeitosos quanto às regras de trânsito,
brigões e é claro, para o paulista, todo nordestino é “Baiano”, o que ignora
toda a diversidade cultural do nordeste brasileiro. Naturaliza-se a ideia de
que uma pessoa negra, pobre e nordestina, eaí homossexual, é subalterna e suas
chances de participar da sociedade são inexistentes.
6 – Sabão Crá-Crá
A única música de qualidade do disco. Sabão Crá-Crá tem
referências da tropicália, de Tom Zé, e de antigas cantigas de roda. Poucos
realmente entendem a crítica presente nessa melodia, falando sobre como a nossa
sociedade ainda vive em “castas” que não se misturam.
7 – Uma Arlinda Mulher
A discussão sobre prostituição é tratada pelos Mamonas
Assassinas de maneira subjetiva, leviana e banal, com requintes de incitação à
violência da mulher. A música supõe que a “mulher retirada das ruas” é extremamente
ignorante um fardo para a sociedade, que jamais conseguirá exercer nenhuma
função intelectual. A música ainda abre espaço para a violência contra os
animais, afirmando de forma irresponsável que é legal deixar dois tigres com
fome para depois dar um prato de comida e vê-los em uma luta selvagem pela
sobrevivência.
8 – Cabeça de Bagre II
Um ritmo americanizado e metalizado traz uma letra idiota,
onde a burguesia coloca miséria e incompreensão em segundo plano, fazendo
piadas e relembrando a todo momento que o Brasil é “Tetracampeão”. Mistura
frases sérias como “a política é o futuro de um país” com “cala a boca e tira o
dedo do nariz”, praticamente convidando o povo a se divertir com o circo de
suas músicas e do futebol ao invés de encarar discussões políticas e
filosóficas. A justiça social que precisamos passa longe dos interesses dos
jovens burgueses, que preferem a alienação conveniente da massa.
9 – Mundo Animal
O ódio e a violência aos animais, já encontrados em pílulas
da machista “Uma Arlinda Mulher”, são regurgitados em uma música que defende
com naturalidade o estupro de animais e o incesto. É necessário deixar bem
claro que a liberdade sexual é muito importante, mas mesmo com animais, é
preciso ter a certeza de que os bichos não estão alcoolizados e portanto o
coito é consensual. O grupo se mostra preocupado com a matança desenfreada das
baleias, mas se mostra conservador e reacionário ao afirmar que as baleias são
melhores do que humanos, já que não traem seus parceiros, o que se trata de
desinformação por parte dos músicos.
10 - Robocop Gay
Mais uma vez, o grupo se mostra imaturo e desconhecedor da
sociedade homofóbica em que vivemos, que passa pela família, pelas escolas e
pelo congresso nacional. Trata-se de uma música que satiriza e rebaixa a luta
do movimento LGBT, mostrando os gays como verdadeiros idiotas cafonas
desprovidos do mínimo de educação. A banda não se sensibiliza pela causa
homossexual impedindo um avanço da cidadania. A música além de afirmar em tom
de ironia que “Gay também é gente”, ataca novamente os baianos e depois caçoa
do povo gaúcho, ao afirmar que eles também podem se mostrar para o Brasil com
essa coisa chamada homossexualismo, que mais parece uma doença aos olhos deles.
Para resumir, a música é enfraquecimento da pauta dos direitos homossexuais e
dos direitos humanos.
11 – Bois Don´t Cry
Uma música brega de amor, sem nada a acrescentar na discussão
ao respeito à diversidade e à pluralidade dos homens. Além disso, a letra se
mostra defensora das instituições arcaicas da igreja onde um homem e uma mulher
devem se manter parceiros para sempre, sem admitir a traição ou a troca de
parceiros, muito menos do mesmo sexo. A falta de respeito à mulher é nítida e
desagradável.
12 – Débil Metal
Uma música escabrosa, tumultuada, tenebrosa e sombria. Para
jorrar o seu ódio à população brasileira o grupo se vale da língua inglesa e
nas poucas palavras decifráveis é possível entender uma tentativa de
manipulação da massa, ao proferir palavras de ordem para que se façam “shakes
de cabeças humanas, chupadores.” Uma ideologia nazista pregando o extermínio
completo dos homossexuais, gritados em palavras odiosas na língua inglesa, para
que crianças e jovens aprendam desde cedo como devem tratar as diferenças.
13 – Sábado de Sol
A intolerância do grupo na faixa 13 é contra os dependentes
químicos. Pessoas que sofrem diariamente com o abuso de poder das forças
policiais e a falta de oportunidades em um mercado de trabalho preconceituoso e
impiedoso que não dá igual acesso ao direito. Os “maconheiros” são citados de
forma debochada na música.
14 – Lá vem o Alemão
A última faixa da perigosa banda paulista esculacha a estilo
de música que traz alegria aos milhões de brasileiros pobres e oprimidos, o
pagode. A letra faz propagandas para as marcas Sazón e Volkswagen (assim como
na arte do CD). De resto, conta a história (para eles engraçada) racista de um
negro pobre, que foi humilhado por uma mulher que o abandonou e preferiu ficar
com um rapaz, loiro, rico e proprietário de um veículo da moda. Além disso, o
grupo trata o boqueirão, bairro da cidade de Santos como uma verdadeira “merda”.
Resumo:
Como deputado, professor e militante, digo que podemos até perder a
luta pelos fracos, negros, oprimidos, gays, lésbicas e excluídos, mas jamais
deixarei de levantar a bandeira contra um grupo que trará tanta violência e
tanto ódio para a cabeça dos jovens brasileiros. Que fará tanta gente chorar e
pensar com descaso sobre pautas tão importantes no cenário homofóbico e
preconceituoso em que vivemos.
* Não seja idiota, esse texto não foi escrito pelo Deputado Jean Willys, mas você acha que, se os Mamonas tivessem surgido em 2014, não teriam sofrido críticas extremistas parecidas com a do nosso excelentíssimo deputado?
2 Comentários:
hahahahahahaha
Genial demais.
ótima avaliação, infelizmente correta, se caso os mamonas surgissem hoje, seriam processados todos os dias, o mundo tá ficando chato demais
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