No dia 17 de Junho de 2013 eu percorri o Largo da Batata, a Avenida
Faria Lima, a Avenida Berrini e depois atravessei a ponte Estaiada com uma
única certeza: estava fazendo parte da história. Cantei o hino nacional a
plenos pulmões! Pessoas pobres, pessoas ricas, pessoas empregadas ou
desempregadas, negras ou brancas, todas juntas! Pessoas acenavam panos brancos
da janela, centenas repudiavam atos de vandalismo e gritavam para quem quisesse
ouvir: estamos cansados de sofrer sem falar nada! O povo acordou!
Hoje, quase um ano depois, a sensação que tenho é muito mais
de uma derrota do que de uma vitória popular. De qualquer forma, tudo aquilo
que gerou pânico e euforia em muitos, serviu para tirar 12 conclusões. Listo
elas aqui:
1 - No Brasil, tudo sempre
acaba em festa.
Depois que Geraldo
Alckmin e Fernando Haddad foram para a TV dizer que o aumento não aconteceria
mas que depois essa conta teria que ser paga por nós, veio a sensação de uma
grande vitória. Eaí a população resolveu sair para “comemorar”. Os protestos já
estavam popularizados Brasil afora, e saíram de qualquer controle. Qualquer
coisa agora, era protesto. Foi aí que apareceu a, tão cantada por nossos poetas,
“criatividade” do povo brasileiro. Cartazes engraçadinhos, fantasias,
vendedores ambulantes... um verdadeiro carnaval fora de época! Galera bebendo
na rua, sites fazendo galerias sobre os protestos mais engraçados. Não tinha
mais foco, e com isso, os protestos perderam a sua importância. Como ali não
havia uma causa, não havia porque prestar atenção naquela palhaçada. Na
internet circulava um vídeo do Anonymous, com 5 causas que a população deveria
exigir um retorno imediato do governo, com a festa que virou, as causas estavam
lá no meio, mas ninguém conseguiu se organizar para fazer grandes eventos em
prol de uma causa de cada vez.
2 - O povo brasileiro
é altamente influenciável. (I)
De repente, virou moda
falar de política. Todo mundo resolveu saber o que eram as PECs, de repente,
todo mundo sabia o que era o Ministério Público, e pouco a pouco, as pessoas
viram que não era assim tão perigoso ir às ruas lutar por algo. Mas precisou
muita gente tomar borrachada primeiro, para que alguns tomassem coragem e vissem
que algo estava errado. Era ótimo ver como todo mundo estava querendo se
informar sobre coisas que todos deveríamos saber! Mas hoje, parece que as
pessoas leram muitas manchetes e se aprofundaram muito pouco. Alguns casos
gravíssimos, mais graves do que aconteceram na época, estão acontecendo hoje; mensaleiros
e suas vaquinhas, o aumento da carga tributária, a volta da inflação, a bolha
imobiliária... mas ninguém parece preocupado ou motivado a ir às ruas mostrar
sua indignação! Foi só pelo R$ 3,20 mesmo?
3 - O povo brasileiro
é altamente influenciável. (II)
Antes de os protestos
começarem, a aprovação do governo de Dilma Rousseff era de 65%. Logo após a onda de protestos, essa
aprovação chegou a cair para 30% e hoje ela praticamente volta ao número de
março do ano passado. Mas o que diabos ela fez nesse tempo que mudou tanto a opinião
desse povo todo!?!? O povo não lê, o povo vê manchetes e vai pelo que “ouve de
um ou de outro”. Infelizmente, essa é a realidade da maioria da população
brasileira.
4 - A polícia não
sabe fazer contas.
No dia 17 de junho,
tinha gente saindo do bueiro, simultaneamente, em 3 das maiores vias da cidade
de São Paulo. Além de grandes concentrações no Lgo. Da Batata e na Ponte
Estaiada. A estimativa da Polícia foi de 60.000 pessoas!!! COMO ASSIM!? Isso
não lota um Morumbi! Só por onde eu passei, eu vi gente suficiente pra encher
uns 20 Morumbis! Não fazia sentido nenhum aquela conta. Hoje, toda vez que
ouço estimativas sobre concentrações populares eu dou risada. Fico imaginando o
comandante Hamilton olhando de cima falando do helicóptero: “Ah acho que deve
ter umas 2 mil pessoas...” Eaí sai um comunicado oficial da PM via fax, falando
sobre a presença de 2 mil “populares”. Piada.
5 - A maioria
silenciosa pode calar a minoria barulhenta.
Vocês já perceberam
que dificilmente sai na mídia alguma pesquisa sobre a preferência do povo
brasileiro sobre a pena de morte, sobre prisão perpétua, ou legalização das
drogas? Apesar de a Globo esquecer que a discussão desses temas existem, se
essas questões fossem colocadas na urna eletrônica, muita gente se
surpreenderia com o resultado, assim como foi com aquele referendo das armas,
em que o povo votou “não” ao desarmamento. É o que eu chamo de “maioria
silenciosa”. A minoria barulhenta fica pelada na rua, bota fogo em ônibus, faz teatro...
e balança bandeiras vermelhas! Durante os protestos, o grito e atitude dos “sem
partido” mostrou a presença esmagadora dessa maioria silenciosa, que dessa vez
foi para as ruas e mostrou que não quer PSDB, não quer ditadura, não quer
petismo e não quer o “politicamente correto”. A maioria silenciosa, se acordar,
pode mostrar a verdadeira opinião do Brasil.
6 - Assim como no
futebol, maioria da população não tem preferência partidária.
Poucos sabem, mas a
maior torcida do Brasil é a dos “Sem time”. Isso mesmo, assim como a maioria
prefere novela à futebol, a maioria prefere novela à política. E mesmo quem se
importa com a política não gosta de nenhuma das “ideologias” de nenhum dos 37 partidos
políticos que disputarão as próximas eleições. É “social” pra cá “liberal” pra
lá, “democrático” no meio, e no fim é tudo farinha do mesmo saco. Isso ficou
muito claro quando o maior movimento que surgiu nas ruas foi o movimento dos “sem
partido”, que causou revolta nos esquerdistas que achavam que estavam no
estopim de uma nova “revolución”.
7 - As redes sociais
servem para divulgar eventos, mas não para criar organizações.
Assim como acontece no caso dos rolezinhos, as redes sociais
se mostraram eficientes para aglomerar multidões e desesperar os desinformados.
Serviu também para mostrar que não adianta tentar encontrar uma organização
iluminati orquestrando tudo quanto é movimento, porque até agora, tudo o que o
Facebook fez foi avisar a um monte de gente sobre algum evento. Quando
entrávamos nas discussões dos eventos oficiais dos protestos, víamos pessoas
com visões e opiniões totalmente diferentes! Até tentavam organizar algo,
fazendo enquetes como “Você acha que devemos quebrar tudo?” “Devemos proibir
bandeiras de partidos?” mas no fundo, ninguém via ali algo oficial! Logo, você
ia pra rua, via um monte de gente junta, gritava e marchava para algum lugar !
Rolezinhos são coisas parecidas só que sem nenhuma ideologia a não ser se
encontrar, ostentar, pegar umas minas, ouvir um funk e ser vítima “dos polícia”
caso alguém venha te entrevistar.
8 - Podem nos roubar,
desde que não mexam no nosso cofrinho!
O povo se sentiu lesado com os 20 centavos a mais no
transporte público porque a maioria dos usuários paga lá, em nota e moedas, ou
por um bilhete, ou para recarregar um cartão. Se o aumento no transporte público
tivesse acontecido por meio de tributo, no IR ou diretamente na fonte, ninguém
ia se sentir tão lesado. Praticamente todo dia temos reajustes em impostos
cujas siglas desconhecemos, e perdemos muito mais do que 20 centavos com isso!
Mas ninguém enxerga, só conseguimos ver algo se mexem em nossa conta ou no
nosso cofrinho . Na época do Collor foi assim também. Ele mexeu na poupança,
devolveu tudo depois, mas até hoje é visto como Lúcifer por ter ousado tocar no
cofrinho da galera! FHC, Lula e Dilma foram mais espertos em relação a como
tirar mais dinheiro de nós.
9 - Você só pode ser
2 coisas: Reaça ou Porco Comunista.
As pessoas com algum conhecimento político adoram rotular
qualquer medida ou opinião como sendo de esquerda ou de direita. Ok, algumas
situações podem ser rotuladas, o problema é que hoje em dia ninguém mais quer a
Ditadura Militar de volta, e ninguém mais quer uma Revolução Comunista. O mundo
mudou, nenhum desses cenários é possível, aceitável ou muito menos imaginável!
Mesmo assim, foi muito engraçado ver o desespero de militantes do PSTU, PT e
afins afirmando que quem gritava por um protesto “Sem Partido” era fascista! Seguidor
de Hitler. Um exagero ignorante e que contribuiu para que a desunião aumentasse
durante a revolta popular.
10 - São Paulo é a
locomotiva do Brasil.
Certa vez o Governo Federal tirou a capital do Rio de
Janeiro por conta dos protestos populares, para fingir que tudo que estava a
sua volta acontecendo não os atingia. Aí vieram os protestos pelas “diretas já”
e o Impeachment do Collor. As imagens emblemáticas foram as do povo tomando à
frente do Palácio do Planalto, e ficaram para a história. Hoje, após milhares
de protestos que passaram em branco em Brasília, parece que o Brasil todo só
entrou na onda depois que viu a cidade de São Paulo tomada pela população.
Ficou claro que, para algum grande movimento tomar dimensões nacionais
novamente, é São Paulo que deve começar e liderar isso.
11 - O Movimento
Passe Livre teve a oportunidade de fazer história, e não o “quis”.
Tudo começou por causa
dos famosos R$ 0,20 de aumento no transporte público de São Paulo. O grupo,
junto com partidos que fazem protesto até contra Miss Bum Bum, PSTUs e PCOs da vida, foram os primeiros a sair às
ruas por conta do aumento inaceitável. Aos poucos, a maioria silenciosa e
desinformada, começou a perceber o quanto era ridículo ter que pagar mais por
um serviço tão ridículo, e a se comover com as imagens daquelas pessoas que
estavam na rua dizendo o óbvio, apanhando de forma covarde. Os eventos criados
no FB pelo Movimento Passe Livre tomaram dimensões jamais esperadas e eles, de
forma até correta, tentaram não impor limites ou regras para quem comparecesse
às passeatas. O link oficial do evento no FB sempre tinha muito mais gente do
que as presentes nas ruas, os veículos de comunicação foram então atrás
daqueles que começaram e “lideravam” tudo isso.
A princípio, eles preferiram não mostrar a cara , e tinham a ideia
correta de não desvirtuar o foco do protesto, que era o transporte público.
Depois que tudo virou
festa, a verdade apareceu. Eles apareceram no fantástico, e se mostraram
claramente um grupo esquerdista e que não concordava com muito do que a
população passou a reivindicar em seus próprios protestos. Hoje, nunca mais
ouvi falar do tal MPL. Suspeito... será que algum companheiro vermelho se
aproximou deles e pediu essa retirada estratégica? Porque o MPL não mudou de
nome e seguiu as tais 5 causas do “Anonymous” que tinham grande aprovação
popular ? Amarelaram ou foram
amarelados?
O fato é que, não
fizemos história, podemos até fazer... mas não vejo o povo indo à rua de
maneira tão grandiosa tão cedo.
12 - As Manifestações
ao menos, ganharam um link no Wikipedia!
E O MUNDO, O QUE ACHA DISSO !?
1 Comentário:
Apenas para atualizar, o MPL continua relevante, nas periferias, exatamente igual era antes dos protestos de junho de 2013.
https://www.facebook.com/passelivresp
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